quinta-feira

SERPICO

SERPICO (Serpico, 1973, Paramount Pictures, 130min) Direção: Sidney Lumet. Roteiro: Wado Salt, Norman Wexler, livro de Peter Maas. Fotografia: Arthur J. Ornitz. Montagem: Dede Allen. Música: Mikis Theodorakis. Figurino: Anna Hill Johnstone. Direção de arte/cenários: Charles Bailey/Thomas H. Wright. Produção executiva: Roger M. Rothstein. Produção: Martin Bregman. Elenco: Al Pacino, John Randolph, Jack Kehoe, Biff McGuire, Barbara Eda-Young, Cornelia Sharpe. Estreia: 05/12/73

 2 indicações ao Oscar: Ator (Al Pacino), Roteiro Adaptado
Vencedor do Golden Globe de Melhor Ator/Drama (Al Pacino) 

Um período de ouro para cineastas e jovens atores dispostos a tratar com realismo as mazelas da sociedade norte-americana, a década de 70 foi também uma época bastante fértil para todos aqueles que não tinham medo de ousar dentro da indústria frequentemente rígida de Hollywood. Uma das duplas mais interessantes de então foi formada por Sidney Lumet e Al Pacino. Dois anos antes de lançarem sua obra-prima "Um dia de cão" (75) e logo depois de Pacino tornar-se astro com "O poderoso chefão" (72), diretor e astro foram os pilares de um grande sucesso de crítica, uma história real que apontava sua tendência em provocar polêmica e discussões: "Serpico" estreou em dezembro de 1973 nos cinemas dos EUA e tornou-se um clássico imediato. Elogiado unanimemente pela crítica, premiado no National Board of Reviwe e no Golden Globe (ambos escolheram Al Pacino como melhor ator do ano) e até hoje considerado pelo consagrado intérprete um de seus melhores desempenhos, o filme de Lumet é um soco no estômago de uma das instituições mais controversas do país: a polícia nova-iorquina.

Narrado em tom semi-documental e propositalmente seco e direto, o filme acompanha a inglória luta do policial Frank Serpico, que, entre o final dos anos 60 e o começo dos 70, bateu de frente com seus colegas por recusar-se a participar dos mais variados esquemas de corrupção policial. Visto como uma aberração - tanto por seus princípios, considerados pouco inteligentes, quanto por seu visual quase hippie - e isolado por todos aqueles que percebiam nele uma ameaça real a um estilo de vida quase banal dentro da corporação, Serpico acaba por ter sua própria vida ameaçada quando passa da indignação passiva e resolve denunciar a prática de suborno para autoridades superiores: não apenas rejeitado em todas as tentativas de promoção, ele se torna persona non grata, chegando a ser vítima de um atentado. Idealista acima de tudo, ele resiste, contando com o apoio da namorada, Laurie (Barbara eda-young).





Realizado por Sidney Lumet de forma pouco comum - as filmagens começaram pelo fim da história e aconteceram em ordem reversa, por exemplo - e com um elenco sem astros - Pacino ainda estava começando a ser conhecido, graças a "O poderoso chefão" (72) -, "Serpico" pode ser quase considerado um precursor dos filmes independentes de Hollywood: com um custo de apenas 3 milhões de dólares, rendeu quase dez vezes esse valor somente no mercado doméstico, mostrando que o público do começo da década de 70 era muito mais aberto a produções sérias e maduras do que o que veio a partir do sucesso estrondoso de "Tubarão" (75), que marcou, de certa forma, a maneira com que a indústria passaria a perceber as bilheterias e as estratégias de marketing. Lançado pouco tempo depois que a história real aconteceu, o filme de Lumet ganhou pontos pelo frescor - e nem precisou contar com Paul Newman e Robert Redford para isso: concebido como um veículo para os dois astros de "Butch Cassidy e Sundance Kid", "Serpico" mudou completamente de formato e chegou às telas como um produto adulto e politicamente relevante - a ponto de receber duas indicações ao Oscar: melhor ator e roteiro adaptado.


Repleto de detalhes inteligentes - como o primeiro encontro entre o protagonista e Laurie, ao som da ópera "Tosca", de Puccini, que fala, entre outras coisas, de corrupção e abuso de poder - e editado com uma crueza que combina perfeitamente com seu tema, "Serpico" é um dos filmes mais importantes de sua época, um retrato poderoso e corajoso de um dos mais preocupantes problemas urbanos dos EUA. Para viver o personagem principal, Pacino não apenas conviveu com o verdadeiro Frank Serpico como visitou alguns lugares barra-pesada de Nova York, já caracterizado e tentando mergulhar no universo de um filme dirigido com firmeza e extrema sobriedade. Pode não ser seu melhor trabalho com Lumet - "Um dia de cão" consegue atingir níveis mais altos de qualidade final - mas é um desempenho digno de nota e aplausos. Não à toa, tornou-se um clássico contemporâneo.

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