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PUNHOS DE AÇO

PUNHOS DE AÇO (Hands of stone, 2016, Fuego Films/Epicentral Studios/La Piedra Films, 111min) Direção e roteiro: Jonathan Jakubowicz. Fotografia: Miguel Ioann Littin Menz. Montagem: Ethan Maniquis. Música: Angelo Milli. Figurino: Bina Daigeler. Direção de arte/cenários: Tomas Voth/Denise Camargo, Amy Williams. Produção executiva: Ricardo Del Rio, Robin Duran, George Edde, David Glasser, Bill Johnson, Max Keller, Kamel Krifa, Jim Seibel, Benjamin Silverman, Bob Weinstein, Harvey Weinstein, Sammy Weisleder. Produção: Carlos Garcia de Paredes, Claudine Jakubowicz, Jonathan Jakubowicz, Jay Weisleder. Elenco: Edgar Ramírez, Robert DeNiro, Usher Raymond IV, Ruben Blades, Ellen Barkin, John Turturro, Ana de Armas. Estreia: 16/5/16 (Festival de Cannes)

Em 1980, o ator Robert DeNiro conquistou as melhores críticas de sua carreira (além de muitos e cobiçados prêmios, incluindo o Oscar) por seu desempenho inesquecível do lutador Jake LaMota, em "Touro indomável", dirigido por Martin Scorsese. Trinta e seis anos mais tarde, já consagrado como intérprete mas constantemente subaproveitado pela indústria hollywoodiana, ele mudou de lado: em "Punhos de aço" De Niro vive Ray Arcel, um dos mais notáveis treinadores de boxe da história do esporte, e o primeiro a ser homenageado no Hall da Fama do Boxe, em 1991. Substituindo a primeira escolha para o papel - seu colega de geração e admiração dos fãs de cinema, Al Pacino - e aceitando modestamente ficar em segundo plano em um roteiro que retrata Arcel como coadjuvante, o veterano ator quase rouba a cena no filme do venezuelano Jonathan Jakubowicz - só não o faz porque quem lidera o elenco, na pele do boxeador Roberto Duran, é o excelente Edgar Ramírez (que, por sua vez, também foi a segunda escolha do cineasta, depois da desistência de Gael García Bernal).

Já conhecido pelo público dos festivais de cinema graças a seu desempenho em "De coração aberto" (de 2012, atuando ao lado de Juliette Binoche) e na elogiada minissérie "Carlos, o Chacal" (2010), Ramírez mostra que tem talento o suficiente para não se deixar intimidar pela presença de DeNiro e entrega uma performance fascinante. Mesmo que o roteiro de Jakubowicz não seja exatamente um primor de criatividade e ousadia, o trabalho de seu protagonista consegue transformar leite em pedra: em boa parte devido à história emocionante e surpreendente de Roberto Duran (um ídolo do esporte panamenho) e sua improvável trajetória, Ramírez dribla com competência os clichês do gênero e as armadilhas melodramáticas e entrega uma atuação memorável, valorizada pela direção discreta e pela edição ágil. Dividindo sua narrativa em duas partes bem definidas - que valorizam qualidades diferentes de seu personagem principal - e sem tentar esconder sua admiração pelo protagonista, "Punhos de aço" consegue ser, ao mesmo tempo, um belo drama sobre esportes e uma interessante e imprevisível lição de vida (sem nunca escorregar no açúcar).


Um ídolo do Panamá (onde sempre foi visto como uma espécie de Robin Hood, distribuindo dinheiro e ajuda para a população mais carente), Roberto Duran é o protagonista ideal para uma história de superação: começando a lutar com apenas 16 anos de idade para fugir de uma vida de criminalidade, tornou-se um campeão por esforço próprio, desafiando seus oponentes com a mesma ironia e desembaraço que apresentava nos ringues. O filme de Jakubowicz centra sua história (com exceção de alguns flashbacks) na relação entre Duran e Ray Arcel (DeNiro), um dos mais respeitados treinadores de boxe de sua geração, que entra na vida do ousado lutador para conduzí-lo à vitória contra o famoso Sugar Ray Leonard (o cantor Usher, assinando como Usher Raymond IV). O resultado da disputa é surpreendente - e o que vem depois disso é ainda mais inacreditável. Mesmo sendo uma história real (e de certa forma razoavelmente conhecida, especialmente pelos fãs do esporte), a luta de Duran para voltar aos ringues é emocionante na medida certa: não apela para lágrimas fáceis nem tampouco minimiza os acontecimentos. Edgar Ramírez está impecável em todas as transições que seu personagem exige - e elas são muitas - e convence sem aparentar muito esforço: é difícil não acreditar que ele "é" Roberto Duran, desde seus ataques de arrogância até suas crises de insegurança; de seus momentos em família e de sua relação quente com aquela que seria sua esposa, Felicidad (Ana de Armas).

Um filme honesto e realizado com o coração, "Punhos de aço" acabou por ser praticamente ignorado nas bilheterias americanas, onde mal passou dos sete milhões de dólares de arrecadação (contra um custo estimado de vinte). Mais um sinal do lançamento sem grande pompa do que reflexo de suas qualidades, a falta de sucesso comercial apenas impediu que o público tivesse acesso a uma produção simpática e que conta uma história que merece ser conhecida, tanto por sua força dramática quanto por seus personagens fortes e carismáticos. Uma pequena pérola a ser devidamente reconhecida - talvez não como um grande filme, mas ao menos como um filme bem-intencionado que consegue o que é cada vez mais raro: comunicar-se com a plateia, seja ela qual for.

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