quinta-feira

GUARDIÕES DA GALÁXIA

GUARDIÕES DA GALÁXIA (Guardians of the Galaxy, 2014, Marvel Studios/Marvel Enterprises, 121min) Direção: James Gunn. Roteiro: James Gunn, Nicole Perlman, comic books de Dan Abnett, Andy Lanning, personagens de Bill Mantlo, Keith Giffen, Jim Starlin, Steve Englehart, Steve Gan, Steve Gerber, Val Mayerik. Fotografia: Ben Davis. Montagem: Fred Raskin, Hughes Winborne, Craig Wood. Música: Tyler Bates. Figurino: Alexandra Byrne. Direção de arte/cenários: Charles Wood/Richard Roberts. Produção executiva: Victoria Alonso, Louis D'Esposito, Alan Fine, Nik Korda, Jeremy Latcham, Stan Lee. Produção: Kevin Feige. Elenco: Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Bradley Cooper, Vin Diesel, Lee Pace, Michael Rooker, Djimon Houson, John C. Reilly, Karen Gillan, Glenn Close, Benicio Del Toro. Estreia: 21/7/14

2 indicações ao Oscar: Maquiagem, Efeitos Visuais

Quem disse que apenas de super-heróis conhecidos e consagrados vive a Marvel? Em 2014, um filme que não tinha um personagem adorado pelo público (como Homem-Aranha, Thor, Capitão América ou Homem de Ferro) nem um astro capaz de arrastar multidões apenas por sua causa (o maior sucesso de seu ator central havia sido "Jurassic World", de 2013, que tinha nos dinossauros seu principal ponto de venda e interesse) surpreendeu a todos com uma bilheteria mundial de mais de 770 milhões de dólares. Confirmação absoluta do poder da marca Marvel, "Guardiões da galáxia" faz parte do mesmo universo dos Vingadores - do qual fazem parte os personagens citados acima - mas suas ligações com ele são apenas circunstanciais, perceptíveis apenas aos fãs mais antenados, que percebem cada detalhe que une todas as histórias em uma só. Àqueles que não tem o mesmo encantamento ou interesse pelo mundo de super-heróis que vem povoando as telas de cinema há quase uma década - os primeiros filmes dessa nova concepção foram "Homem de Ferro" e "O incrível Hulk", ambos de 2008 - o filme de James Gunn serve perfeitamente como uma divertida, agitada e descompromissada comédia de ação, comandada por um espetacular Chris Pratt e recheada de efeitos visuais caprichados e personagens coadjuvantes carismáticos e interessantes. Não à toa, apesar da incerteza acerca de sua bilheteria antes da estreia, o final já deixa claro que a aposta não era tão às cegas assim. Cinema de verão, afinal, é exatamente como "Guardiões da galáxia".

Visualmente impecável, o filme de James Gunn é quase infantil em seu humor fácil e personagens que prescindem de todo tipo de realismo, mas ainda assim consegue cativar todos os tipos de público. O roteiro - coescrito pelo diretor e por Nicole Perlman, primeira mulher a ter seu nome nos créditos de um roteiro da Marvel - usa e abusa do bom-humor, inserindo piadas nas horas exatas e fazendo de seu protagonista um personagem de quem é impossível desgostar. Sem levar-se demais a sério, a história é quase uma desculpa para uma sequência de bons momentos de ação e comédia, embalados em uma direção de arte de um colorido quase kitsch e uma trilha sonora deliciosa - uma seleção de hits da década de 80 que chegou ao número 1 da revista Billboard e foi indicada ao Grammy. Ilustrando espirituosamente uma trama recheada de efeitos visuais, explosões e personagens de aparência excêntrica (o filme concorreu ao Oscar de maquiagem, mas perdeu para "O Grande Hotel Budapeste"), as músicas escolhidas pelo diretor transformam o que já era entretenimento de primeira em uma viagem de montanha-russa na companhia de um grupo de adoráveis defensores da galáxia (ainda que alguns com intenções bem menos nobres do que simplesmente colocar a vida em risco por puro altruísmo).


A história começa na Terra, em 1988, quando o adolescente Peter Quill é abduzido por uma nave espacial logo depois da morte de sua mãe. Sem saber nem mesmo quem é seu pai, o rapaz leva consigo apenas uma fita cassete gravada por sua mãe com sucessos musicais da época e um pacote de presente ainda não aberto. Vinte e seis anos mais tarde, Quill trabalha como mercenário das galáxias, vendendo sua mão-de-obra e seu jogo de cintura em lidar com os mais variados tipos de alienígenas para resolver pequenos problemas interplanetários. Bem-humorado e feliz com sua atividade profissional (além de reconhecido e prestigiado por ela), Quill subitamente vê sua cabeça à prêmio quando, depois de roubar uma misteriosa esfera com o poder de destruir o mundo, passa a ser caçado pelo perigoso Ronan (Lee Pace) e seus violentos asseclas. Para defender-se (e ao mundo), ele se une então a um grupo no mínimo excêntrico, formado pelo ambicioso guaxinim Rocket (voz de Bradley Cooper), a árvore mutante Groot (voz de Vin Diesel), o agressivo Drax (Dauve Batista) e a vingativa Gamora (Zoe Saldana). Juntos, eles são a última esperança de impedir a destruição do universo.

A partir daí, dá-lhe cenas de ação que equilibram com destreza efeitos especiais caprichadíssimos (que perderam o Oscar para "Interestelar", de Christopher Nolan) e piadas realmente engraçadas e que surgem organicamente no roteiro - não como artifício narrativo, mas sim como parte essencial de um conjunto de extrema coesão. Agarrando com unhas e dentes o papel principal, Chris Pratt parece ter nascido para interpretar Peter Quill, com um misto de heroísmo, sarcasmo e pureza que o torna irresistível. Sua química com o restante da equipe é admirável, conduzida com leveza por James Gunn, um cineasta sem vasta experiência mas com inteligência o suficiente para explorar as maiores qualidades da trama (o humor, os personagens carismáticos, a despretensão) sem tentar impor um estilo próprio ou ousadias desnecessárias. Um excelente meio-termo entre entretenimento rápido e eficaz e um produto comercial gigantesco (por menores que fossem as expectativas trata-se de um filme da Marvel, afinal de contas), "Guardiões da galáxia" não conquistou às exigentes plateias mundiais à toa: é uma das mais gratificantes experiências do universo dos gibis, entregando mais do que prometia e apresentando ao público uma gama de personagens encantadores e simpáticos. Uma pérola do gênero!

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