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RUTH & ALEX

RUTH & ALEX (5 flights up, 2014, Lascaux Films/Latitude Productions, 88min) Direção: Richard Loncraine. Roteiro: Charlie Peters, romance de Jill Ciment. Fotografia: Jonathan Freeman. Música: David Newman. Figurino: Arjun Bhasin. Direção de arte/cenários: Brian Morris/Alexandra Mazur. Produção executiva: Gary Ellis, Bob Gass, Judy Burch Gass, Sam Hoffman, Richard Toussaint. Produção: Curtis Burch, Morgan Freeman, Lori McCreary, Tracy Mercer, Charlie Peters. Elenco: Morgan Freeman, Diane Keaton, Cynthia Nixon, Carrie Preston, Claire van der Boom, Korey Jackson. Estreia: 05/9/14 (Festival de Toronto)

Alguns atores tem um carisma e uma personalidade tão fortes que basta sua presença em cena para justificar o interesse por um filme. Morgan Freeman é um desses atores. Diane Keaton idem. Capazes de dar dignidade a filmes como "O apanhador de sonhos" (no caso dele) e "O casamento do ano" (coestrelado por ela), eles podem não salvar filmes ruins do desastre, mas ao menos são capazes de garantir um mínimo de qualidade dramática a qualquer um deles. Se não fosse por sua presença, por exemplo, o razoável  "Ruth & Alex" seria apenas mais um drama simpático destinado a preencher a programação da tv a cabo. Sem uma trama forte onde se sustentar e apostando todas as suas fichas no talento da dupla de protagonistas, o cineasta Richard Loncraine - cujo trabalho de maior destaque até então era a adaptação de "Ricardo III", de Shakespeare, estrelado por Ian McKellen em 1995 - entrega uma sessão da tarde inofensiva, mas por isso mesmo facilmente esquecível.

Toda a trama do filme gira em torno do casal de protagonistas e sua tentativa de encontrar um comprador para o apartamento do Brooklin em que moram há quarenta anos. Mesmo apaixonados pela vizinhança e dividindo memórias afetivas com o lugar, eles sabem que morar em um prédio sem elevador e em um bairro cuja segurança não vive dias de glória não será uma opção viável em poucos anos. Com a ajuda da sobrinha de Ruth, Lily (Cynthia Nixon, da série "Sex and the city"), eles abrem a casa para a visitação de interessados no imóvel, enquanto também procuram outro lugar para onde transferirem sua vida. Nesse meio-tempo, travam contato com uma série de coadjuvantes nem sempre interessantes e sofrem com a possibilidade de perderem também a pequena Dorothy, sua cachorrinha de estimação, que sofre de um problema na coluna.


Adaptado de um romance escrito por Jill Ciment, "Ruth & Alex" fala de inúmeras questões relevantes à sociedade atual, mas não chega a aprofundar-se em nenhuma delas. Pelo roteiro de Charlie Peters desfilam diálogos sobre a forma como a juventude percebe a terceira idade, sobre as mudanças na concepção de arte, sobre o preconceito contra imigrantes (em uma subtrama inteligente sobre um rapaz caçado como terrorista na vizinhança do prédio dos protagonistas), sobre especulação imobiliária e até sobre racismo (quando flashbacks iluminam o início da história de amor do casal central, em pleno começo dos anos 70). O problema é que, por não querer pesar a mão, Peters deixa tudo tão leve que impede o espectador de realmente se importar com os personagens e seus dramas. É difícil se emocionar com as angústias de pessoas cuja maior angústia é sair de um apartamento de quase um milhão de dólares para comprar outro no mesmo valor - e para isso nem mesmo a competência de Freeman e Keaton é remédio. Para sorte do público, porém, eles estão luminosos até quando o roteiro fraquinho não lhes dá muito material para isso.

Um dos produtores do filme, Morgan Freeman surpreende ao viver um personagem radicalmente diferente dos homens poderosos e/ou misteriosos a que se acostumou a interpretar em sua longa carreira: na pele de Alex Carver, ele demonstra um lado doce e carinhoso que se revela em suas amenas discussões com a apaixonada esposa e com os diálogos que trava com a pequena filha de uma das interessadas em seu apartamento - que encontra também em outras ocasiões no decorrer da narrativa. Diane Keaton, por sua vez, esbanja a simpatia de sempre, com seu sorriso aberto e estilo despojado que lhe renderam fama - e o Oscar de melhor atriz, por "Noivo neurótico, noiva nervosa" (77). São os dois, exclusivamente, os motivos para dar uma espiada em "Ruth & Alex". Não muda a vida de ninguém, mas é um entretenimento agradável e rápido para uma tarde de chuva.

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